sexta-feira, maio 30, 2008

Viva la obviedad

Duas músicas do novo álbum do Coldplay já estão na internet. Uma por vontade do próprio grupo, que disponibilizou o novo single, intitulado Violet Hill, para download em seu site. Quanto à outra, eu não sei, já que ela simplesmente chegou ao meu e-mail com a indicação: "Pode desmaiar, Mar". Bem, eu não desmaiei, embora tenha gostado da canção, que possui o rickymartiniano título de "Viva la Vida".

Essa expressão, aliás, também consta no nome do novo álbum, o "Viva la Vida or Death and all his Friends". Confesso que quando eu a ouvi, senti um frio da espinha. Sim, era medo. Medo da possibilidade de Chris Martin ter exagerado demais no bom-mocismo e composto algo excessivamente feliz, otimista e que beirasse à auto-ajuda. Sei lá, tipo Ricky Martin mesmo... Não que dar um pasito pra frente ajude alguém, mas enfim.

O fato é que, nessas duas faixas, o Coldplay continua o Coldplay. Ou seja, uma banda politicamente correta que produz melodias belas e melosas, marcadas por pianos melancólicos e guitarras comportadas aqui e acolá. É aí que, com um certo sentimento de culpa por ainda gostar de uma banda assim e pressentindo severas críticas a esse novo álbum, eu me pergunto: o que há de mal nisso? Sim: o que há de errado com o fato de o Coldplay continuar sendo o Coldplay?

Talvez por nunca ter esperado algo muito grandioso ou genial da banda eu não vejo problema nenhum nisso. Parece claro para mim, desde os primeiros álbuns, que o Coldplay dificilmente seria um novo Radiohead, capaz de compor discos como o "Ok Computer" ou o "Kid A". Na minha opinião, a banda sempre esteve, guardadas as proporções, mais para um U2, até pelo viés "anos 80" e pelo engajamento político um tanto oportunista. E, sendo assim, não vejo mal em esperar do grupo de Chris Martin boas, porém óbvias, canções pop, como esta:



Ainda pensando nisso, o que eu acho mais engraçado é que, enquanto muita gente critica o fato de o Coldplay ainda ser o Coldplay, outras não aceitam o fato de o Radiohead ter deixado de ser o Radiohead (do "The Bends"). Curioso, não? E eu sigo gostando das duas bandas, aceitando a obviedade de uma e me surpreendendo com a outra. E, é claro, dando, sempre, um pasito para frente em louvor ao Ricky. Aliás, ele e Chris Martin seriam parentes?

 

segunda-feira, maio 26, 2008

Às Vezes

Às vezes parece que esperamos a mudança acontecer de fora, por um fenômeno inexplicável da natureza. Às vezes esperamos que o outro faça as mudanças por você. Às vezes ficamos reparando apenas no que os outros têm de bom. Às vezes não fazemos porque não sabemos, mas esperamos alguém ensinar e direcionar. Às vezes não sabemos o porquê escrever num negócio tipassim meio público. Às vezes dá vontade de fazer as coisas só quando não temos tempo. Às vezes dá vontade de fazer as coisas só quando não temos tempo. Às vezes dá vontade de repetir a mesma frase. Às vezes dá vontade de não fazer nada. Às vezes dá vontade de escrever tudo errado mesmo. Às vezes respirar dói. Às vezes dá vontade de ser irresponsável. Às vezes dá preguiça de ser responsável. Às vezes dá vontade de saber tudo. Às vezes vemos o tempo passar. Às vezes dá vontade de escrever frases feitas. Às vezes ficamos reclamando de tudo. Às vezes reclamamos por não ter tempo, às vezes por ter, às vezes por ter trabalho, às vezes por não ter, às vezes por seus amigos não terem tempo procê, às vezes por você não ter tempo pros amigos. Às vezes dá vontade de ser produtivo. Às vezes só de se divertir. Às vezes parece que você tem mil possibilidades e pode fazer tudo o que quiser, às vezes se sente impotente, como se não tivesse capacidade de fazer nada. Às vezes quer apenas atualizar seu blog. Às vezes quer expor seus sentimentos sem ser brega. Às vezes se rende ao breguismo. Às vezes vê Rocky Balboa na TV, às vezes vê Bergman em DVD, às vezes só vê mais um coelho explodindo por aí. Às vezes se preocupa demais com o que os outros pensam. Às vezes pensa demais no que os outros fazem. Às vezes exige muito dos outros. Às vezes muito de si mesmo. Às vezes é muito crítico. Às vezes, quer que tudo se foda. Às vezes pensa, e daí?

 

terça-feira, maio 20, 2008

Perguntar na Blockbuster qual é a 2001 mais perto, não tem preço

Desde a semana passada to querendo comprar a terceira temporada de Monty Python’s Flying Circus, mas ainda não tinha me organizado para ir até a locadora 2001 na Av. Paulista adquirir meu DVD.

Hoje em especial estava muito afim de comprar, mas a única locadora / vendedora de DVD no meu caminho era a Blockbuster (que agora é também lojas Americanas), que seria praticamente impossível ter. Mas, enfim, resolvi entrar pra dar uma olhada. Afinal, não ia dar pra ir até a Paulista só pra isso, e vai que eu desse extrema sorte e conseguisse achar a série por lá.

Diálogo com primeira atendente:

- Vocês tem a nova temporada de Monty Python?
- Do quê?
- (articuladamente) Mon-ty Py-thon?
- (ainda me olhando estranho) Não.

Desanimada, como era previsível, comprei um chocolate e resolvi me arriscar de novo perguntando pro rapaz do caixa, já que a primeira atendente visivelmente não sabia do que eu estava falando. Vai que ele fosse fã da série:

- Vocês estão vendendo a nova temporada de Monty Python?
- Do quê?
- Da série Monty Python?
- (com cara de interrogação) As séries estão lá no fundo. Você já olhou?
- Olhei sim. (dei um tempinho) Você sabe onde é a 2001 mais perto daqui?
- (com mais cara de interrogação ainda) Não sei.
- É que acho que só tão vendendo lá.
- Ah tá, você quer comprar. É, a gente não tá vendendo. (responde ele, como se soubesse do que eu estava falando e como se fizesse diferença, nesse caso, eu querer comprar ou alugar).

É claro que se eles assistissem Monty Python, provavelmente pensariam "Eu não estava esperando a inquisição espanhola". Mas se eles assistissem, também saberiam que ninguém espera a inquisição espanhola!


 

domingo, maio 18, 2008

Mensagens em celular

Tenho mania de guardar mensagens de texto no meu celular - seja pra recordar uma mensagem fofa, ou uma engraçada, ou simplesmente pra lembrar momentos. De vez em quando releio as mensagens e apago algumas, mas sempre tem uma ou outra que me fazem rir... E fico imagindo o que pensaria alguém que as lessem fora de seus contextos.

Sendo assim, selecionei algumas pra postar aqui. Não vou postar os autores, nem as mensagens que dêem pra saber quem enviou, ou que são muito pessoais (o que deixou de fora cinco muito boas). Enfim, vamos para o top 8:

1- a q o cachorro come o esposo e a amiga conta

2- Quem vamos engravidar?

3- Td bem, eu estarei morto mesmo.

4- A cena engraçada era a do cavalo?

5- Roubar um YYY do XXX que estava junto com XXX num velho XXX é YYY?*

6- Meu celular nao tem acento, demorei um tempao para entender o que era maca. Eu nao sei, acho que depende do organismo.

7- Mim viu funde! Rs

8- Quer assistir a peça Tristão e Isolda hoje as 7h00 de graça na FIESP com direito a coquetel?

*os XXX foram usados aqui neste texto pra omitir informações vitais ao "crime". Já os YYY não eram tão necessários assim, mas ficou mais engraçado com eles.


 

quinta-feira, maio 15, 2008

Como salvar um dia ruim em uma noite

crédito: Carolina Andrade
Eu costumo pensar que, se um dia começa ruim, é quase certeza que ele também irá terminar de forma ruim. Eu estava certa de que a sexta-feira passada seria um dia assim. Acordei atrasada, não tomei café da manhã direito, no meio do caminho para o ponto de ônibus, vi meu ônibus passando. Chegando lá, vi meu ônibus saindo e tive que ficar 40 minutos esperando o próximo. Cheguei, é claro, atrasada no trabalho, para um dia cheio. Almocei correndo, peguei fila no banco: as perspectivas para a noite não eram das melhores.

Mesmo assim, saí do trabalho com certa esperança em direção ao Via Funchal. Como não poderia deixar de ser, peguei um trânsito absurdo no caminho, o que me fez desistir de esperar o outro ônibus e me obrigou a ir andando da rua Cardeal Arco Verde até o número 65 da Rua Funchal. Uma úmida, escura e desesperada caminhada.

Embora seja estranho falar em "sorte" em um dia como esses, acreditei ser uma sorte o fato de eu ter chocolates da bolsa. Comecei a comer, loucamente, os bombons que eu carregava comigo. Isso me ajudou a andar mais rapidamente e a me importar menos com os pingos de chuva que começavam a cair. Os canteiros com tulipas amarelas e roxas com que eu me deparei no meio do caminho também tiveram um papel importante para o começo da minha recuperação frente ao dia ruim que vinha até então se desenrolando para mim.

Cheguei ao Via Funchal completamente descabelada, uns cinco minutos antes de Martha Wainwright entrar no palco, acompanhada de seu violão, para abrir o show de seu irmão, o Rufus Wainwright. Vendo aquela criatura mexer as pernas descontroladamente enquanto soltava pela boca uma voz belíssima, tive certeza de que a minha teoria sobre dias ruins não estava livre das exceções.

Esse pensamento se confirmou quando Rufus entrou no palco, naquela noite ocupado apenas por um piano, um microfone e um contrabaixo. Nos primeiros versos de "Grey Gardens", percebi que o que iria acontecer ali seria algo especial. Se o show com pessoas sentadas e caladas não funcionou com o Coldplay, com o Rufus, em sua performance solo, aconteceu perfeitamente. A voz dele tomou conta do lugar e calou a platéia, que, como eu, assistia ao show em um completo estado de choque, interrompido apenas pelas palmas, pelos gritos e pelas... gargalhadas. Sim, o mesmo cara que canta coisas como "I drink from the bottle, weeping why won't you last?", em "Foolish Love", também faz gargalhar.

E, se eu sou completamente vulnerável a frases como essas, também não escapo às gargalhadas. Não conseguia parar de rir, por exemplo, quando Rufus, ao apresentar a canção "Sanssouci", comentou que, no Rio de Janeiro, havia comido em um restaurante chamado San Suchi ou quando ele parou no meio dessa mesma canção, porque tinha errado, e disse algo como "Eu adoro esses telões, mas teve uma vez na Austrália em que fiquei o show todo olhando para eles. Vou tentar não fazer isso novamente".

Acho que ele sabe que precisa fazer nos rir parar nos tirar do estado de transe em que ele nos coloca ao abrir a boca próximo a um microfone e soltar musicalmente as melancólicas e machucadas palavras que compõem suas canções. Em algumas delas, como em "Not ready to love" e "In my arms", eu fiquei de tal forma presa à música que só percebi que havia prendido a respiração quando estava sentindo falta de ar. As risadas funcionam como um respiro, como se, ao fazer suas graças, ele quisesse dizer "Respirem agora, porque, daqui a pouco, vou novamente fazê-los ficar sem ar". E, de fato, acho que era mais ou menos isso acontecia.

Nos momentos desses respiros, Rufus nos tira de algo quase sublime e se mostra, paradoxalmente, como uma pessoa completamente descomprometida no palco, pronta para os improvisos, para os erros e para a espontaneidade. Ou seja, tira os espectadores das nuvens e os traz para o chão, com perdão pela imagem carregada de pieguice. E, no chão, nós nos encantamos com um artista que faz comentários no meio das canções, imita com a voz o que seria um solo de guitarra e nos pede que finjamos ser o Marlon Brando sem camisa.

Tudo funciona como se nós estivéssemos ido à casa de Rufus e não ele ao nosso país, principalmente nas vezes em que sua irmã, sua mãe e seu cunhado também sobem ao palco. E, assim, eu descobri que, lá na casa de Rufus, indo das nuvens ao chão, os dias ruins são facilmente esquecidos.