quinta-feira, março 01, 2007

A falta do "algo"


Poderia ter sido perfeito. No repertório, estavam algumas das melhores músicas do grupo. No palco, uma banda disposta a fazer qualquer coisa para agradar o público, até mesmo tocar de improviso uma música não prevista para o show. Na apresentação, diversos elementos para tornar aquilo tudo ainda mais mágico, como luzes criativamente aproveitadas ou bolas recheadas de papel picado jogadas sobre a platéia. Mas, parece que faltou algo. Pelo menos, é essa a minha sensação.
Cheguei ao Via Funchal uma hora e meia antes de o Coldplay ocupar o palco, sentei na minha cadeira já sentindo-me um pouco estranha, afinal, estava no número 58 da fila U da platéia três. Ou seja, na última fileira do canto direito. Do meu lado, apenas uma cadeira, ainda sem a ocupante que largaria o assento antes mesmo de o show começar. Até aí tudo bem, já tinha mesmo o plano de correr para frente assim que houvesse alguma movimentação no palco. Foi exatamente o que eu fiz: corri quando as luzes se apagaram e o público se levantou.
Do corredor que separava o lado direito da platéia 3 em dois, eu assisti toda a apresentação do Coldplay. Vi o Chris Martin dançando desengonçadamente de um lado do palco para o outro, dos microfones para o piano e do piano para próximo da platéia. Enquanto isso, os outros permaneciam em seus lugares - o baixista Guy Berryman, à direita, o guitarrista Jon Buckland à esquerda e Will Champion na bateria, localizada levemente à direita. Com isso, a tarefa de conquistar o público estava mesmo nas mãos de Chris Martin, que, como era de se esperar, arriscou um português: "e aí galera, beleza?".
Parecia, sim, estar tudo "beleza" com a "galera". Afinal, a banda fazia uma ótima apresentação, cheia de hits cantados em coro pelas pessoas. Foi assim com Yellow, foi assim com Clocks, foi assim com a linda Fix You. No meio do show, uma surpresa deliciosa: eles haviam incluído What If, uma das minhas canções preferidas do "X & Y". Só fiquei um pouco chateada depois de pensar que a inclusão dela no set list pudesse ser culpada pela retirada Til Kingdom Come, a minha música preferida desse álbum. Mas, tudo bem, ainda tinha - não necessariamente nessa ordem - Talk, In My Place, Swallowed In The Sea e... Shiver! Sim, o público pediu e eles improvisaram, apenas no violão e na guitarra. Tudo muito bonito. Mas, então, por que eu continuava sentindo que faltava algo?
Por que, de fato, faltava. Eu olhava para os lados e as pessoas estavam paradas, cantavam as músicas, batiam palmas, mas estavam comportadas e confortavelmente distantes umas das outras - eu pude pular, mexer os braços e as pernas sem incomodar ninguém. Tudo bem que a idéia inicial era que todos ficassem sentados, porém eu nunca pensei que algo perto disso fosse acontecer... nem mesmo quando comecei a perceber que a maioria das mulheres da platéia usavam salto alto. (Aliás, a elegância do público que compareceu deixou eu, minha blusa de algodão e o meu tênis completamente deslocados).
Eu passei a respeitar o Coldplay depois de assistir, no extinto Lado B, a um trecho de um show deles e perceber que uma banda que conseguia causar tamanha emoção na platéia deveria ser olhada com mais atenção. Foi o que eu fiz e, após ouvir primeiro álbum, me tornei fã do grupo. Quando eu lembro disso e penso no show da última terça-feira, me vem a impressão de que alguma coisa ali estava errada. Pode até ser que a banda não esteja tão bem nos últimos tempos, após o lançamento do "X & Y", mas, eu prefiro acreditar que o grande problema do show no Brasil foi a estrutura montada e o público gerado por ela.

 

Comments:
Hehehe eu e o bruno estavamos debatendo seu post aqui. A gente chegou a conclusão que não dá, não rola a mesma coisa que rola num show de rock, com a galera esperando em pé, ou no máximo sentada no show, todo mundo ansiosissimo. Aí entra a banda no palco, galera delira, começa empurra-empurra típico, a galera pulando e gritando junto. E ninguém ligando se está descabelado, se o tênis sujou, se a roupa tá em ordem...num dá, num é a mesma energia.
 
as questões da roupa e do comportamento do público podem ser resolvidas se levando em consideração o preço do ingresso... e eu acho que você, como eu, acredita que um verdadeiro show é aquele em que a gente pula, fica suado, grita e sai com o tênis totalmente destruído. yeah!
 
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