terça-feira, abril 17, 2007

Educação Sentimental do Vampiro

Mãos de Felipe Hirsch, diretor da Sutil Companhia

Para fugir da solidão da noite de Natal, um senhor entra no cinema. Lá, apenas um casal e um homem. Ele se senta na última fileira e espera o tempo passar. Instantes depois aparece um rapaz loiro gay fazendo bolas com o chiclete. Este se senta ao lado do senhor, e começa a tocá-lo. Pânico. O jovem loiro se abaixa entre suas pernas e começa a chupá-lo na região da virilha. Tensão. Aparece o lanterninha, tosse, procura casais em atitudes estranhas e sai. Outro homem surge e se senta mais a frente. O jovem loiro do chiclete olha, se levanta, e segue em direção ao novo personagem. Se senta ao lado dele e recomeça o ritual. Toque, tensão, lanterninha. Depois das batidas do relógio, o senhor dá graças a Deus: está salvo da solidão do seu quarto de hotel na noite de Natal.

Esta é uma das esquetes de "Educação Sentimental do Vampiro", novo trabalho da Sutil Companhia, em cartaz no Teatro Popular do Sesi. Adaptado de contos do escritor Dalton Trevisan, também conhecido como o Vampiro de Curitiba, a peça é a primeira do grupo a utilizar textos brasileiros.

Pessoas solitárias, mulheres que apanham dos maridos, envenenamentos familiares, estupro e jovens que não conseguem perder suas virgindades são os temas retratados nas diversas cenas do espetáculo, que trazem, além de um clima sombrio, toques de humor negro.

As histórias são contadas na terceira pessoa, com os atores se revezando no papel de narradores, o que deixa menos cansativo o recurso. Em algumas das esquetes, o relato é feito pelos próprios personagens que participam da ação.

Destaque para o trabalho de corpo dos atores. Com expressões corporais e faciais muito bem definidas, eles incorporam figuras aberradoras de seres não sociais - como a prostituta banguela e o senhor solitário.

A cenografia de Daniela Thomas é um espetáculo a parte. Composto por enormes espelhos em conjunto com projeções, o cenário ajuda a dar um ar mais melancólico para o ambiente. Além disso, cada objeto utilizado em cena é deixado pelos atores no palco e ajuda a construir o clima da cena seguinte.

Contudo, a apresentação acaba se tornando cansativa em suas duas horas de duração, ao trazer esquetes desnecessárias e que passam mensagens já transmitida em anteriores, como no caso da mulher que é esfaqueada até a morte pelo marido. Antes, o público já havia assistido uma outra história muito parecida contada praticamente da mesma maneira, só que por outra atriz.

Aliás, essa última cena foi recebida por muitos risos por parte dos espectadores. Não se tratava de uma comédia, mas enquanto a personagem relatava a maneira como era espancada pelo marido, na platéia, risadas cada vez mais altas. Na primeira fileira, dois casais se beijavam. Paravam para ri. E voltavam a se beijar.

Depois da agradável "Avenida Dropsie", o trabalho anterior da Sutil, a companhia retorna com uma produção bem mais sombria, com histórias amargas e com um toque ácido no humor.

OBS: Antes de começar a peça, eu e mais dois amigos chegamos para ocupar nossos lugares, e estes já estavam preenchidos por um casal. Cheguei para eles e disse:

- Acho que vocês estão nos nossos lugares.
- Não, são nossos. Seis e oito. - Replicou a moça, na cara de pau.
- Isso, seis e oito da fila B. - Falo enquanto mostro nossos ingressos.
- Ahhh, aqui não é a fila H? - Finge-se de burra a moça.
- Não. É ordem alfabética, depois do A, normalmente vem o B, depois o C, o D... - A moça e o rapaz já vão se levantando.
- Desculpa, desculpa. - Repete o rapaz, visivelmente constrangido pela atitude da moça.

Moral da história. A mulher preferiu fingir que era burra, do que admitir que estava sentada num lugar que não era o dela. (eu continuaria a dizer que a mulher era realmente burra, mas hoje vou dar um desconto).

 

Comments:
preciso ver urgentemente esta peça. quanto ao episódio da moça, além de burrice há o mau-caratismo. péssimo, por sinal.
 
dume moralista, eu achei o maior divertido.
 
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